quinta-feira, 12 de março de 2009

Texto de Caco Coelho (diretor da Usina do Gasômetro)

A arte deve servir para tirar as pessoas da letargia, interessava Antÿnio Vieira, já naquele tempo. A arte é o instrumento da sociedade que torna mais sensíveis as pessoas. Ao mesmo tempo, a arte tem a função de despertar. A arte não pode estar subalterna, servindo de contentamento. A sociedade usurpou o lugar da mentira e condenou a arte a ser estéril. Dessa forma, surgiram espetáculos onde o cerne é o escárnio de nós mesmos. Também a encenação de clássicos com a função modular, limitadora. A arte extrapola os limites, amplia o mundo e por isso harmoniza. Não querer a arte na dianteira, inventando novos mundos, é subestimar o desejo de liberdade. Não utilizar a arte para iluminar a escuridão dos socavões da indignidade é dar guarida a inépcia, a desrazão, a injustiça. A arte necessita clamar para desfazer a condenação cotidiana, não dispor do seu potencial onírico, e descolorir a diversidade da vida, empobrecendo seus rumos. A arte não concilia, distingue e com isso proporciona o alargamento da humanidade.

Durante os anos setenta surgiu nos Estados Unidos uma técnica de movimento batizada Contato Improvisação. De lá pra cá muita coisa mudou, inclusive o significado da arte. Hoje ganha essencialidade esta manifestação, na medida em que a aparência tornou-se ferramenta do disfarce da sociedade. A arte deve tirar esta máscara, seu objeto é ver, em essência, tocar. O projeto Sul em Contato traz para a sala 209 na Usina do Gasômetro, um complexo painel deste movimento e tem o apoio do Fumproarte. Esta é uma referência que serve para mostrar a função do Fumproarte. Um projeto de formação, continuado, que traz o exercício de uma nova margem da arte, compondo um painel internacional, executado ao longo de um ano. O Fumproarte cresceu e se firmou nestes anos de vida. Isto dá o direito de ir adiante. Sua vocação deve ser mais determinada no sentido de proporcionar caminhos para a sociedade. O apoio a este projeto é uma prova disso.

Publicado no jornal Correio do Povo

Porto Alegre, 07 de março de 2009

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